Não sei se isso é prosa, mas certo é que não é poesia. Faltam métrica e rima porque é dessa forma que tenho conduzido a minha vida.
Prosa ou poesia? O que sinto não exige classificação.
Hoje sinto falta de alguém que não conheço.
Sinto falta dos momentos em que riremos até chorar e também daqueles em que choraremos porque não saberemos rir.
Sinto falta de alguém que me chamará pelo nome e fará meus pelos se arrepiarem no último "a".
Vaneeeess-a.
Sinto falta de você que nunca me viu.
Quase nada é sério
Uma compilação de devaneios quase nada sérios.
sexta-feira, 18 de julho de 2014
domingo, 15 de setembro de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
Redemption Song - Jesuton
"Emancipate yourselves from mental slavery
None but ourselves can free our minds".
Bob eternizou essa música, Jesuton a divinizou.
terça-feira, 30 de julho de 2013
Machado, só você me entenderia...
Me fosse dada a oportunidade de voltar no tempo, estaria eu ali andando lado a lado com Machado: o irônico, o ranzinza, o gênio. Não tendo sido agraciada com tal benção me contento com o pouco que me é proporcionado. Hoje, ele ocupa tanto minha cabeceira quanto a minha cabeça. Que privilégio.
Trecho de "Machado de Assis - Crônicas Escolhidas" (Seleção, introdução e notas por John Gledson):
Ele [Machado de Assis] queria outra coisa - queria prender o leitor, claro, e sabia fazê-lo como ninguém, mas também queria forçá-lo a pensar, a sair da sua rotina mental. É assim que diz no dia 24 de março de 1895: 'A ideia não é clara: lede-me devagar'. Ou, novamente, no dia 31 de maio de 1896: "O que for saindo saiu, e tanto melhor se entrar na cabeça do leitor". Ou, ainda, no dia 21 de agosto de 1893: "Acabemos com este costume do escritor dizer tudo, à laia de alvissareiro [aquele que anuncia as boas novas; encorajador]". (...) O leitor tem que entrar no jogo.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Testamento - (Vinicius de Moraes)
Em meio às minhas recentes andanças pelo mundo da música, encontrei esta que muito me encantou: Testamento, do meu (do seu, do nosso) Vinícius de Moraes.
TESTAMENTO
Você que só ganha pra juntar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
O que é que há, diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irrnão!
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irrnão!
Falado
Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...
Cantado
Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!
Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar
Falado
Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito
(e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra
(e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra
Cantado
Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não
Falado
Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material. É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas
Cantado
Você que não gosta de gostar
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!
Pra não sofrer, não sorrir e não chorar
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar!
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão! É fogo, irmão!
domingo, 7 de julho de 2013
"Pimentas"
O prazer de terminar um livro me é comparável ao prazer de um beijo bem dado. É querer, ao mesmo tempo, duas coisas: que não acabe, que aquele minuto se prolongue indefinidamente pelo tempo; e que acabe porque melhor é o que vem depois. O beijo, amigo, é a véspera do orgasmo.
E é assim que me sinto quando me aproximo da página final de um bom livro. Ao mesmo tempo que desejo que ele nunca acabe, desejo desesperadamente alcançar a última palavra para depois me perder em meio aos meus pensamentos e reflexões. Desejo fazer amor comigo e, enfim, gozar.
Com o "Pimentas", do Rubem Alves, não foi diferente. Cheguei à última página com um misto de tristeza e euforia. A tristeza veio por conta do fim, por conta da indesejada despedida; a euforia porque minha alma inquieta, após ter sido fecundada por tantas ideias, gerou e pariu este texto.
Rubem me ensinou e me inspirou bastante, ainda que nunca tivesse sonhado em fazê-lo. Por suas palavras, tive contato com Adélia Prado, Cecília Meireles, Bernardo Soares, Alberto Caeiro, Nietzche, Lobato e Fernando Pessoa...Que sensíveis essas pessoas! Que belas as suas percepções do mundo! Que "frasista" esse Fernando!
Aprendi que religião, poesia, parábola, Chopin e fogo são beleza; que literalidade e ciência são formas de ver a efemeridade do mundo; que beleza e efemeridade caminharão eternamente juntas.
Tomei a liberdade de lançar mão de duas frases citadas no "Pimentas" que se afinam com quem sou.
A primeira é de Alberto Caeiro e é resposta ao frequente questionamento de uma amiga querida que insiste em saber se estou "reeeealmente bem". Linda, encontrei a resposta poética para a sua pergunta! E, da próxima vez que perguntar, ela será mais ou menos assim: estou alegre e estou triste "mas minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma...".
A segunda é resposta a outro frequente questionamento. Perguntam-me: "Você tem Facebook?". Digo: não tenho. Minha resposta vem seguida de um "sério!?" e eu digo "sim". E o surpreso "mas por quê???" do meu interlocutor é inevitável. A essa última indagação encontrei outra resposta poética, desta vez, transcrita nas palavras de Fernando Pessoa - o frasista: "Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre...". Para entender esse sentimento recomendo um outro texto meu.
Alberto, Fernando, Rubem e tantos outros, obrigada. Muitas das perguntas que me fazem ainda continuarão sem respostas, mas essas? Essas não.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Sete livros e a conta, por favor!
Depois de um mês e quase dois livros de crônica (digo "quase" porque estou nas dez páginas finais do segundo), começo a me sentir verdadeiramente feliz, leve e em paz. E isso me faz pensar na estreita relação que há entre o tempo e o que fazer com ele.
Eu poderia chorar, esbravejar, espernear e amaldiçoar minhas escolhas passadas e futuras; eu poderia xingar, resmungar e sair espalhando pragas por aí (ainda que em pensamento, porque sou uma boa menina); eu poderia, até mesmo, deixar de comer e viver enlutada. Na verdade, eu poderia, pude e fiz. Mas tudo isso foi por um tempo necessário e que hoje, olhando para trás, percebo que foi cronologicamente tão curto, mas emocionalmente suficiente. Decidi, inspirada por amigos e mãe (Deus, mais uma vez, obrigada pelo privilégio de ter essas pessoas por perto!), revisitar minhas escolhas, reencontrar comigo, reavaliar o tamanho do meu mundo e ultrapassar meus limites (se é que os temos). E fiz isso: uma das minhas providências foi ir à uma livraria e viver a experiência de comprar um livro por prazer e não por obrigação. E que delícia foi viver isso! Até chorei. E saí de lá não com um, mas com seis pra mim e mais um que dei de presente. A fome de comida que eu não tinha (o que me fez até perder uns quilinhos! \o/), transformei em fome de cultura. E comecei a devorar meus novos livros - como diz Rubem Alves, o que um escritor mais quer é que seus livros sejam antropofagicamente lidos. Bem, Rubem, acho que você tem razão. Devorando-os, fui sarando e sarando e sarando. A úlcera que outrora havia, transformou-se em inspiração e em conhecimento. O tempo do luto passou a ser o tempo da redescoberta de alguém que adormecia em mim; de alguém que estou gostando de (re)conhecer.
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