quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que você faria por R$4,00?

      Eu estava parada, distraída. Ele se aproximou de mim. Devia ter uns 11 anos. Era mais baixo que eu e, por isso, inclinou sua cabeça para cima, a fim de que eu lhe desse a atenção devida. Ele vomitou seu discurso decorado. Tímido, falou baixo, me olhou com um olhar vazio, evasivo. Não consegui entender muito bem o que disse, mas pude perceber o automatismo que ligava uma frase a outra. Pedi que repetisse. Ele regurgitou pacientemente o mesmo discurso. Dessa vez, fui mais além e entendi as palavras-chave. O menino era bom de marketing. “Dois reais”, “café”, “padaria” e uma garantia “Deus te dará em dobro, tia”. Diante de uma garantia dessas, perguntei a ele “E onde fica a padaria?”. Ele me respondeu “Mais ali na frente, próximo ao mercado”. Não pensei duas vezes, me convidei. Disse “Vou com você, vamos?”. Preocupado com meu condicionamente físico, ele disse que era longe “Lá no mercado. A senhora vai andando até o mercado?”. Confiante de que conseguiria terminar o percurso, eu disse que sim. Ele insistiu, agora já não tão pacientemente, “É longe tia. Só dois reais. Deus vai te dar em dobro!”. Repeti “Mas eu vou com você, a gente toma café juntos. Vamos?”. Apesar da minha óbvia incapacidade de compreender o que queria, o menino foi paciente. Ele virou as costas e foi embora. Mirou mais baixo e pediu R$1,00 a três meninas que passavam.