Outro dia descobri que
tenho muito mais textos não-escritos do que escritos. Revirando uma
pasta do meu computador, encontrei dezenas de textos começados, mas
nunca terminados. O que me levou a pensar: o que nos faz não
escrever um texto? Ou melhor, o que nos faz escrever um? Pensei em
algumas razões para se escrever um texto.
Uma delas é boba:
simplesmente veio a ideia e se tinha um computador ou lápis e
papel por perto. Diz a lenda que JK Rowling estava na pindaíba,
chorando suas mágoas em um bar, quando começou a escrever Harry
Potter em um guardanapo.
Outra é porque a ideia
te incomoda a tal ponto que não escrevê-la é simplesmente
angustiante. Ela martela, martela e martela na sua cabeça até que
você a materialize no papel. Ideias com vontade própria. Tenho
muitas!
Penso em outras razões,
a vaidade, por exemplo. A vaidade pode também nos levar a escrever.
“Escrevo porque sou intelectual e as pessoas precisam ter acesso às
minhas ideias brilhantes”; “Escrevo porque sou muito inteligente
e o mundo precisa saber disso”; “Escrevo porque escrevo bem e
receber um 'uau, seu texto é muito bom!' massageia meu ego carente.”
Bem, infantilmente, eu digo: escrevo porque
quero escrever e ponto. Ao que um analista perguntaria “De onde vem essa vontade, Vanessa?”. “Não sei.” - eu responderia. “Não
sabe?” - ele insistiria. “Não sei.” - eu devanearia. E ele
mudaria de rumo: “Me fale um pouco sobre o seu pai...”. E a sessão terminaria. Eu falando do meu pai, mas não chegando exatamente ao motivo
de eu gostar tanto de escrever e de nem sempre fazê-lo.
Enfim, poeticamente, eu digo: escrevo porque
escrever liberta. Liberta ideias enclausuradas, liberta desejos
acorrentados, vontades que nem chegaram ao nível da consciência
ainda. Escrevo porque sou além do que as palavras são, mas por ora
são o que sou.