sábado, 31 de dezembro de 2011

"It's not you, it's me"

      Conversávamos sobre a nova namorada dele. Contrariando os ensinamentos do menino loiro que certa vez se apaixonou por uma rosa vaidosa, comecei pelas perguntas não-essenciais "Qual o nome dela? Quantos anos tem? O que ela faz?". Ao que ele me respondeu, meio hesitante, "Fulana de Tal, X anos, mestrado na PUC". Exclamei "Uau! Inteligente, né?". Com um indiferente "É, deve ser...", concluí o que já me era claro há algum tempo: inteligência não lhe dá vantagens quando o assunto é sedução; ser gostosa, por outro lado, coloca a mulher numa posição de destaque - e em outras posições mais, conforme o caso e a liberalidade do casal.

    Bom, que a minha conclusão não veio só do indiferente "é, deve ser..." é óbvio. Outros fragmentos de experiências e conversas dessa vida se juntaram e compuseram esse quebra-cabeça. Como disse em um outro texto, pensar não está em alta. Principalmente no mercado em que sentir - tesão ou frio na barriga - é o que causa alvoroço nos investidores.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Bota na cara, bota onde quiser

     Era uma tarde de sol. Estava quente, bem quente. Era um almoço inocente. OK, paremos o teatro por aí. Nunca é inocente quando se trata de nós duas. Conversávamos. Conversa vai, conversa vem e o assunto passou a ser o último garoto com quem ela tinha ficado. 

     - É, Vanessa, difícil entender. Ou melhor, não tão difícil: a garota tem  na cara três piercings; cabelo "loira puta". Um cara que fica, ao mesmo tempo, com essa garota e comigo só pode ter algum problema.

     - Ah, de repente ele é eclético. BEM eclético, diga-se... - instiguei.

   - Não, Vanessa, você não está entendendo. Não é questão de ser eclético ou não. Isso já beira um transtorno de personalidade!

       Gargalhei!


domingo, 27 de novembro de 2011

Tenho Face, logo existo.

   
     Em terras francesas, no auge do século XVII, René Descartes fundava o que conhecemos hoje como Ceticismo Metodológico, segundo o qual devemos duvidar de cada ideia que não seja suficientemente clara. Sem mais blá blá blá, o conceito criado pelo distinto filósofo pode ser resumido pela famosa frase: penso, logo existo.

      Ora, amigos, René falou isso porque não viveu no século XXI. Caso vivesse nos tempos de hoje, sua ciência provavelmente tomaria um outro rumo. Pardon moi, René, mas hoje esse negócio de pensar não tá com nada.

      Hoje, para existir, basta criar gratuitamente um perfil na rede social de Zuckerberg. É daí que advém, portanto, a sua identidade. A sua construção como sujeito, como diria nosso amigo Freud, depende diretamente da popularidade do seu perfil:

“Tenho 1000 amigos, logo existo”
“Estou namorando, logo existo”
“Compartilho vídeos, logo existo”
“Tenho 3457 fotos, logo existo”
“56 curtiram meu status, logo existo”
“Meu perfil é mais badalado que o seu, logo existo”

      Sua existência já não depende mais daquilo que pensa, mas daquilo que você escreve no seu Face. Ela – a existência - passou a estar intrinsicamente ligada àquilo que os outros comentam no seu perfil. E - cá entre nós - desses, quantos realmente se importam com quem você é ou com como você está? Algum deles já te viu sem maquiagem? E aquele braço musculoso da foto? É realmente seu?

      Solteiro, casado, enrolado ou celibatário. Sua vida amorosa está no Face! Sua formação acadêmica, a quantidade de línguas que fala e – até mesmo! – os livros que você já leu estão lá expostos na vitrine. Sim, na vitrine. Não é isso que o Facebook, é? Pensa comigo: mulheres esquálidas, homens fortinhos, cores, roupas, bebidas, sapatos e eventos. Não é essa a felicidade vendida por lá? E, ouso dizer mais, nessa  enorme vitrine, mais importante que ser feliz é ser mais feliz que você.

      Todo mundo se vende, todo mundo se compra. E, como hoje é tudo muito popular, a preços baixinhos. Peraí, mas não é esse o princípio dos sites de vendas coletivas: muitos produtos, muitos clientes, preços baixinhos? Não seria o Facebook um grande site de vendas coletivas? Bem, a resposta para isso, fica para um outro texto.

domingo, 20 de novembro de 2011

Na cama comigo


     Não fumam, não bebem, não acordam com mau hálito. Eles são de várias cores; exibem vários tamanhos. Uns mais populares, outros mais tímidos. Quem já dormiu comigo sabe: não é fácil conseguir. Não me interesso por qualquer coisa, palavrinhas mais ou menos não são o que me atraem. Alguns, por fora, até já me chamaram a atenção. Mas após alguns breves minutos de intensa análise, nada aconteceu. Não foi pra cama comigo. Desculpa, mas não deu. O groove não rolou.

     Atualmente, dormem três. Em noites alternadas, é bem verdade. Os três de uma vez não dá. Tem quem consiga realizar tal proeza, mas eu não. Sou uma só. Já tentei, mas me cansou demais. Devo dizer que quantidade não é o mesmo que qualidade. Ora, se você tem a chance de se deitar ao meu lado será digno de toda a minha atenção. Aquele momento será único, pessoal e – garanto – chegaremos ao Nirvana juntos. Baby, é quase sempre inesquecível. A não ser quando o sono vem mais forte e me pega de surpresa.

      Sobre os três? Bem, um fala bonito, é sábio, espiritual; outro fala Direito e um fala até outra língua! “Parlez-vous français?”“Yeah, but my English is better I guess...”. Uns me divertem, outros me ensinam e tem até aqueles que me ajudam. Nisso tudo, uma coisa é certa: todos me moldam, como as crianças fazem com uma massinha colorida. Uma massinha colorida. É isso que sou.

      Ainda há muitos na fila (e ela não para de crescer!). Calma, não tem lugar para todo mundo!

     Prostituição literária. Eu prostituo vocês: pago, pego, leio. E se gosto, passo para outros ou outras. Não sou egoísta. Nada disso. O que é bom deve ser compartilhado.

      Meus parceiros, de fato, não fumam, não bebem e nem acordam com máu hálito. Mas também não beijam, não abraçam, não dão colo e nem choram. Tampouco falam ao pé d'ouvido. E que falta isso faz, não?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

"Repita comigo: ADULTA!"


     Sinto-me ridícula ao dizer isso, mas acabei de fazer uma descoberta que está mudando a minha vida paulatina, mas definitivamente: CRESCI. E foi assim de repente. Tão de repente que não tive tempo de largar minhas bonecas, achar a cabeça do meu dedão do pé e colocar o skate de novo no quartinho de entulhos.

     Não me dei conta de que crescer seria tão rápido. Não percebi! Juro que não vi o tempo passar. Num belo dia, acordei e pensei: sou adulta, sou mulher; não posso mais me descrever como “uma menina”. Nossa, deixei de ser menina para ser mulher. Mas, pera aí!, quando foi que isso aconteceu!? Logo eu que sempre ouvi “nossa, que menina madura para a idade”! A menina – hã,hã – mulher madura aqui nunca pensou que fosse ser tão difícil ser descrita como “adulta”. A-D-U-L-T-A. Quanta responsabilidade há nessas seis letrinhas! Diversões também, é verdade. Fato é que ser descrita, e pior!, me descrever como “uma adulta” é difícil pacas.



 (P.S.: Adultos falam “pacas” !? É, vá entender...)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Samba de uma nota só" feelings

"Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota como eu volto pra você
Vou contar com uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá,sol, lá, si,dó
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só."

(Tom Jobim em Samba de uma nota só)





sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As melhores coisas da (minha) vida


     Sem a mínima pretensão de ser original, resolvi elaborar uma lista das melhores coisas da vida. Logicamente, que a lista é completamente tendenciosa e parcial, visto que por mim é que ela foi criada e, portanto, é com os meus óculos que a imagem de “melhor coisa da vida” foi formada. Aviso de pronto que qualquer semelhança com a sua lista não é mera coincidência e que faço questão de acreditar nisso.

     Eis a lista:

  • Conversar, jogar ou fazer nada com amigos, madrugada afora até que os olhos fiquem embaçados de tanto sono;
  • Tomar uma Coca bem gelada quando dá vontade;
  • Receber AQUELE telefonema que você espera ansiosamente;
  • Ouvir vários "Parabéns!” e desejos de felicidade eterna no dia do aniversário (já que não tenho facebook, orkut ou similares, registro aqui – e espero um telefonema seu! - é 25 de abril);
  • Ganhar um presente fora de época;
  • Abraçar, beijar e perturbar quem você ama;
  • Ler um livro deitado na rede, ouvindo o barulhinho da chuva e sentindo cheiro de terra molhada;
  • Estar verdadeiramente à vontade com gente para quem não vai fazer diferença se você está maquiado, penteado ou barbeado;
  • Dormir (top 3!);
  • Comer;
  • Brincar de correr (isso envolve futebol, handball, pique alguma coisa e demais brincadeiras de criança);
  • Falar um outro idioma;
  • Aprender alguma coisa nova;
  • Ter amigos imensuravelmente inteligentes e doidos de pedra;
  • Entender um pouquinho mais de Deus;
  • Ter mãe e pai por perto;
  • Receber um elogio quando você realmente menos espera (ou acha que menos merece); e
  • Ter sensibilidade para perceber o que realmente te faz bem. Afinal, sem isso, todos os demais itens da lista não valem de nada.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A virgem e o chá de lingerie


     Recentemente fui ao chá de lingerie de uma noivinha amiga minha cujo blog bem humorado é este aqui. O evento foi interessantíssimo, divertissímo e erótico no ponto. Não passou do limite do sensual para cair no vulgar. Cheguei lá por volta de 15h junto com Larissa. Estávamos supercuriosas para ver com quantos sutiãs, calcinhas, vibradores e algemas de pelúcia se fazia um chá de lingerie.
   Aliás, abre parêntese, prometi umas fotos a um amigo, mas diferentemente do que imaginava, não havia mulheres seminuas trocando lingerie umas com as outras. Só a noiva é que ficou seminua. Brincadeirinha! Nem a noiva, obviamente! Só Tiago, o noivo, é que terá o privilégio. Fecha parêntese.
     Continuemos. O chá foi uma graça. A decoração e o buffet esbanjaram bom gosto: eram bolas de oncinha caindo do teto, copos descartáveis personalizáveis, quitutes deliciosos e docinhos em formato de espartilho. Nos divertimos bastante. Madrinhas, sogras, amigas e noiva eram só gargalhadas na tradicional hora de pagação de mico. O esquema para presentear a pobre noivinha era o de recompensas: um mico, uma calcinha; dois, um sutiã.
     Após as típicas brincadeirinhas, a coisa esquentou. Entrou em cena uma “personal sex” cuja proposta era nos dar uma aula de sedução. A aula foi na verdade uma vitrine de produtos eróticos. Foi desde brilho labial que provoca ereção a bolinhas para pompoarismo, passando por perfumes com feromônios, gel para massagem erótica e lubrificante de última geração. Ui, ficou quente de repente? Ou sou só eu?
     Confesso que fiquei meio cabreira assim que, ao se apresentar, a professora utilizou a seguinte expressão: “sou graduada e pós-graduada em marketing”. Hum, não sei, mas esse negócio de graduação em marketing não me cheirou bem. Fosse ela uma psicanalista, psicóloga, ginecologista OK, mas marketeira!? Não confio em gente que me convence de que eu preciso de algo que até aquele momento não fazia a mínima falta na minha vida – e que provavelmente nunca fará. Enfim, após a palavra “marketing” tudo me pareceu meio falcatrua, mas não foi isso que me motivou a escrever este texto.
     Na verdade, a motivação veio do tal “perfume dos feromônios”. A proposta do perfume é simples: duas gotinhas atrás de cada orelha e todos os homens do mundo ao seus pés. Pensei no seguinte: isso não seria uma manipulação dos acontecimentos naturais? Afinal, o grande quê do amor não é você descobrir que está accidentaly in love? Comentei isso com Larissa, ao que ela respondeu: “mas, Vanessa, isso é como a maquiagem, a roupa e o brinco que a gente usa! O perfume é só uma forma de conquistar ativando um outro sentido, o olfato”. A resposta de Lari me tranquilizou, mas não me convenceu. Por algum motivo, não acho que sejam a mesma coisa. Continuei martelando e o comentário de Larissa me fez lembrar uma pequena estória contada por outra amiga, Heloísa. Ei-la:

Casal na hora H

Homem supreso: Ué, cadê seus peitos!?
Mulher cinicamente tranquila: No varal, amor.

      Peitos no varal, feromônios atrás da orelha. Serão a mesma coisa? Não sei... Fato é que caso eu usasse o tal perfume, me sentiria como se estivesse enganando meu parceiro, trapaceando o acaso do amor, facilitando demais as coisas. Isso é, se de fato o tal perfume funcionasse.
     A lembrança da tal estorinha me faz cair numa contradição: peitos falsos, OK; feromônios, não. Mas por quê? Por que sutiãs de enchimento são antigos e populares e perfumes de feromônios não? Será que algum dia os perfumes de feromônios poderáo ser comprados na Citycol? Ou, outra, será que no amor – no mítico amor com A maiúsculo – peito, bunda e feromônios fazem diferença? Well, termino esse texto com muitas perguntas. Alguém aí tem a resposta para elas?

domingo, 2 de outubro de 2011

Ih, tava ligado!?


     Madonna disse uma verdade numa coletiva, ao pensar que seu microfone estava desligado. Disse detestar hortênsias, logo após um fã lhe entregar um buquê das flores lilás e virar as costas. Como não pôde ser diferente, a mídia fez alarde “Um absurdo ela ter dito isso!”, “Quanta indelicadeza!”, “Gafe!”.

      Isso me fez refletir sobre as vezes em que queremos que o outro diga alguma coisa – de preferência bem comprometedora – sem ao menos desconfiar de que nossos ouvidos estão atentos a qualquer murmuro, pois mal sabe ele que o microfone à sua frente está ligado. Não sei você, mas volta e meia me vem essa vontade de ouvir do outro o que ele REALMENTE pensa. Algo que talvez nem ele saiba que pense.

       Esse episódio me fez pensar também no microfone. Esse microfone pode ser um parente, um amigo, uma pessoa qualquer que ouve a conversa despretensiosa desse outro e passa adiante a informação cujo destino era ficar guardada entre a boca de quem fala e a memória de quem ouve. O problema, no entanto, está no meio: é no ar que a informação se perde. É entre a boca de quem fala e os ouvidos de quem ouve que talvez o que não deveria ter sido dito é dito e alcança outros ouvidos que não eram sua original destinação final.

        Pois bem, absurdo, indelicadeza ou gafe fato é que Madonna disse o que pensou, sem perceber que de silencioso seu pensamento não teria nada, pois – ops! - seu microfone estava ligado. Absurdo, indelicadeza ou gafe talvez a liberdade esteja no fato de dizermos o que pensamos sem que sequer pensemos no microfone. Hum, ou não. Começo a desconfiar que a liberdade está no fato de não pensarmos tanto no que o outro pensa ou deixa de pensar, na ausência ou na presença de um microfone ligado. Será?

domingo, 18 de setembro de 2011

Eu te amo. Mas casar!?

     Estava ouvindo esta música e comecei a pensar sobre como seria me casar com um de meus melhores amigos. Cheguei à seguinte conclusão: casar com um melhor amigo não deve ser lá um bom negócio.
     Não me entenda mal, mas é o mesmo que morar com seu melhor amigo pelo resto da vida. Cinco dias nas férias, OK. Mas a vida toda!?
     Conseguiria eu suportar a superorganização de minha querida amiga N.? Um armário organizado por cores em degradê. É demais para minha fobia de superorganização. Dê-me uma escrivaninha bagunçada, mas não me dê um arquivo organizado por numeração!
     Será que ela aguentaria a minha mania de deixar toalha molhada em cima da cama? Ou ainda, de uma vez a cada dois meses iniciar o meu processo de arrumação de armário, o qual se prolonga por mais dois? Um armárío por vez e coisas espalhadas até encontrarem sua gaveta-final.
     Será que eu suportaria a superfofura de minha amiga M.? Meiguice é bacana, é legal, mas no meu dia de fúria da TPM seria tortura! Muitas TPMs para o nosso casamento resistir.
     Será que ela me aguentaria nas minhas manhãs de mau-humor sem motivo? OK, se é de manhã, tem motivo. Como diz Garfield “I'd like mornings better if they started later.” [Eu gostaria mais das manhãs se elas começassem mais tarde].
     Será que eu suportaria a inteligência e a profundidade dos pensamentos de meu amigo F., após um longo dia de trabalho e kilos de sono?
     E ele? Será que teria paciência com as minhas recorrentes crises existenciais? Mesmo que o auge delas calhasse de ser durante a final do Brasileirão? Acho difícil...
    Bem, uma coisa é namorar, casar e depois se tornar melhor amigo. Outra bem diferente é ser melhor amigo e depois namorar e casar. Desculpem-me os românticos crônicos, mas isso de que “bons amigos dão bons casamentos” é, pra mim, estória pra boi dormir.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Textos escritos e textos não-escritos



     Outro dia descobri que tenho muito mais textos não-escritos do que escritos. Revirando uma pasta do meu computador, encontrei dezenas de textos começados, mas nunca terminados. O que me levou a pensar: o que nos faz não escrever um texto? Ou melhor, o que nos faz escrever um? Pensei em algumas razões para se escrever um texto.

     Uma delas é boba: simplesmente  veio a ideia e se tinha um computador ou lápis e papel por perto. Diz a lenda que JK Rowling estava na pindaíba, chorando suas mágoas em um bar, quando começou a escrever Harry Potter em um guardanapo.

    Outra é porque a ideia te incomoda a tal ponto que não escrevê-la é simplesmente angustiante. Ela martela, martela e martela na sua cabeça até que você a materialize no papel. Ideias com vontade própria. Tenho muitas!

     Penso em outras razões, a vaidade, por exemplo. A vaidade pode também nos levar a escrever. “Escrevo porque sou intelectual e as pessoas precisam ter acesso às minhas ideias brilhantes”; “Escrevo porque sou muito inteligente e o mundo precisa saber disso”; “Escrevo porque escrevo bem e receber um 'uau, seu texto é muito bom!' massageia meu ego carente.”

     Bem, infantilmente, eu digo: escrevo porque quero escrever e ponto. Ao que um analista perguntaria “De onde vem essa vontade, Vanessa?”. “Não sei.” - eu responderia. “Não sabe?” - ele insistiria. “Não sei.” - eu devanearia. E ele mudaria de rumo: “Me fale um pouco sobre o seu pai...”. E a sessão terminaria. Eu falando do meu pai, mas não chegando exatamente ao motivo de eu gostar tanto de escrever e de nem sempre fazê-lo.

    Enfim, poeticamente, eu digo: escrevo porque escrever liberta. Liberta ideias enclausuradas, liberta desejos acorrentados, vontades que nem chegaram ao nível da consciência ainda. Escrevo porque sou além do que as palavras são, mas por ora são o que sou.
      



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Da série "Verdades universais"

Toda mulher já tentou um dia converter um canalha.

"Comigo ele vai ser diferente";
"Canalha!? Foi porque não me conheceu antes!";
"A vida dele vai ser dividida em AC e DC: 'antes de Carla Cristine' e 'depois de Carla Cristine'. Isto ou mudo de nome!".

Pois mude, minha filha (até porque convenhamos, né?).

Canalha ou não, "liberdade na vida é ter um amor para se prender", já diz Fabrício aqui e aqui.

Ouso de dizer que concordo com ele. Mas se puder, Paizinho, um não-canalha, por favor.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O que você faria por R$4,00?

      Eu estava parada, distraída. Ele se aproximou de mim. Devia ter uns 11 anos. Era mais baixo que eu e, por isso, inclinou sua cabeça para cima, a fim de que eu lhe desse a atenção devida. Ele vomitou seu discurso decorado. Tímido, falou baixo, me olhou com um olhar vazio, evasivo. Não consegui entender muito bem o que disse, mas pude perceber o automatismo que ligava uma frase a outra. Pedi que repetisse. Ele regurgitou pacientemente o mesmo discurso. Dessa vez, fui mais além e entendi as palavras-chave. O menino era bom de marketing. “Dois reais”, “café”, “padaria” e uma garantia “Deus te dará em dobro, tia”. Diante de uma garantia dessas, perguntei a ele “E onde fica a padaria?”. Ele me respondeu “Mais ali na frente, próximo ao mercado”. Não pensei duas vezes, me convidei. Disse “Vou com você, vamos?”. Preocupado com meu condicionamente físico, ele disse que era longe “Lá no mercado. A senhora vai andando até o mercado?”. Confiante de que conseguiria terminar o percurso, eu disse que sim. Ele insistiu, agora já não tão pacientemente, “É longe tia. Só dois reais. Deus vai te dar em dobro!”. Repeti “Mas eu vou com você, a gente toma café juntos. Vamos?”. Apesar da minha óbvia incapacidade de compreender o que queria, o menino foi paciente. Ele virou as costas e foi embora. Mirou mais baixo e pediu R$1,00 a três meninas que passavam.  

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Da série tesouros da experiência

Descobri, faz pouco tempo, algo que talvez seja bobo aos olhos de quem me lê, mas vá lá. Descobri que as ideias não são um fim em si mesmas. Isso tem mudado a minha vida. Vai-se o tempo, fica o registro.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Diga-me o que tens na tua parede e te direi quem és


      Na minha há:
  • Um grande nada lilás;
  • Um fluxograma do curso de Direito da UERJ;
  • Uma tabela com o mês de agosto, preenchida até a metade com as atividades do mês;
  • Uma folha de ofício branca repleta de corações - presente de uma aluninha minha fofa de 6 anos;
  • A seguinte frase sábia, presente de uma amiga: "Deus nos dá o dom da língua, não para termos sucesso ou usarmos de maneira vã, mas sim para levarmos seu amor até os confins da Terra."; e
  • O poema de Fernando Pessoa: "Para ser grande, sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui./Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes./Assim em cada lago a lua toda/ Brilha, porque alta vive."

      Achei melhor do que dizer com quem ando.

domingo, 28 de agosto de 2011

Tempos de Chico...(suspiros,suspiros)

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar"



(Chico Buarque em "Futuros amantes")

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meus amigos geniais II


     Outro dia conversava com um amigo sobre o meu medo de ter internet no celular:
     - Imagina. Eu com internet no celular iria ficar neuroticamente abrindo minha caixa de e-mails. Não sou uma pessoa controlada para ter internet à mão a qualquer hora.
     Ao que ele respondeu:
     - Nem eu...
     Continuei:
     - E mais. Com internet no celular eu ia querer sair tuítando tudo que visse pela frente. Se tiver que esperar até em casa para postar, faço outra coisa, esqueço. Meus impulsos são refreados.
     - É, também tenho medo desses smartphones. Hoje, já sinto que "tô" ficando panqueca quando começo a pensar em 140 caracteres.

Sensacional!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Meus amigos geniais I



     Um amigo meu, que terá sua identidade preservada, no auge de sua recém solterice, vira para mim e diz:

     - Meu Deus,Vanê, já tem duas mulheres me dando mole...
     - Quem são as mulheres? - perguntei.
     - As duas não me interessam muito... - responde ele desanimado, citando os nomes e sobrenomes das pretendentes, em seguida.
     - São feias? - indaguei curiosa.
     - Uma é feia. A outra tem valores muito diferentes...
     - Valores diferentes?
     - É. Não gosta de estudar, é metida a esperta, meio vulgarzinha, dá mole para vários homens, é metida a gostosa e o pior: é pobre!

     Gargalhei!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A prostituta e seu Senhor

     "VOCÊ pode esperar. DEUS não.” Foi com essa frase que a minha noite de evangelismo começou. Foi a segunda vez que o “Reação na madrugada” saiu, obviamente, de madrugada para mapear/evangelizar. Dessa vez, fomos acompanhar o Pr. Eric Reese, missionário americano que mora no Brasil e evangeliza prostitutas e travestis há 7 anos.
     Ao contrário de mim, não foi a primeira vez das meninas e meninos ali da Sernambetiba, da Atlântica e dos becos da Lapa. A maioria deles já conheciam o trabalho do pr. Eric e carinhosamente o apelidaram de “pr. Mike Tyson”. Pr. Eric é alto, forte, negro e tem cara de mal. Faz um certo sentido, né? Pois bem, nos encontramos por volta de meia noite, na casa do pr. Eric. Ele nos passou algumas orientações, oramos e num pulo saímos. Literalmente. Após a oração, pr. Eric deu um pulo da poltrona onde estava e disse “Vamos!”. E fomos. Entramos todos no carro dele e saímos rumo à praia. A estratégia era simples. Ele estacionava e saía – também num pulo – do carro. Um de nós fazia o mesmo e o acompanhava. Em seguida, nos aproximávamos de uma das meninas, meninos ou grupos, nos apresentávamos e, a partir daí, era o Espírito Santo que mandava. E mandou!
     A minha primeira vez, como não poderia deixar de ser, foi inesquecível. Pastor Eric pulou para fora do carro e eu pulei atrás dele. Andamos em direção a um ponto de ônibus e nos aproximamos de duas meninas, as quais estavam ali paradas. Quando estávamos a três passos delas, um carro se aproximou. Era um cliente. Pr. Eric parou de andar e eu parei também. Uma delas fez um “5” com a mão, estendeu o braço e energicamente balançando-o disse: “Ei, ei, pode esperar! Espera, espera! VOCÊ pode esperar. DEUS não.” E foi assim, após essa advertência ao cliente voluptuoso, que o pr. Eric me apresentou a elas e o Espírito agiu.  

"Que gracinha, Vanessa!"


     Primeiro dia de aula, primeiro trabalho acadêmico do período: “em trabalho original, descreva a importância do advogado como agente da atuação concreta do direito e da administração da justiça, indique as funções privativas do advogado, os requisitos para o exercício da profissão e selecione e comente as prerrogativas que pareçam mais importantes para a garantia do exercício da atividade.” Aluna aplicada que sou (hã-hã) resolvi fazer o trabalhinho e enviá-lo ao meu caríssimo professor por e-mail. Qual não é a minha surpresa quando, ao abrir minha caixa de e-mails pela manhã, me deparo com um “Que gracinha, Vanessa! (...)”. Pois bem, o começo dessa resposta do professor por si só já me diz muitas coisas. Enumerá-las-ei:

  • Primeiro, ou o professor é muito sensível ou escrevo como se tivesse 8 anos de idade e provoco ataques de fofura em meus leitores (as duas hipóteses são prováveis);
  • Segundo, meu estilo de escrita é completamente inadequado ao ambiente jurídico (como se eu não soubesse disso antes);
  • Terceiro, por que eu faço Direito mesmo?