Madonna disse uma
verdade numa coletiva, ao pensar que seu microfone estava desligado.
Disse detestar hortênsias, logo após um fã lhe entregar um buquê
das flores lilás e virar as costas. Como não pôde ser diferente, a
mídia fez alarde “Um absurdo ela ter dito isso!”, “Quanta
indelicadeza!”, “Gafe!”.
Isso me fez
refletir sobre as vezes em que queremos que o outro diga alguma coisa
– de preferência bem comprometedora – sem ao menos desconfiar de
que nossos ouvidos estão atentos a qualquer murmuro, pois mal sabe
ele que o microfone à sua frente está ligado. Não sei você, mas
volta e meia me vem essa vontade de ouvir do outro o que ele REALMENTE pensa. Algo que talvez nem ele saiba que pense.
Esse episódio me fez
pensar também no microfone. Esse microfone pode ser um parente, um
amigo, uma pessoa qualquer que ouve a conversa despretensiosa desse
outro e passa adiante a informação cujo destino era ficar guardada
entre a boca de quem fala e a memória de quem ouve. O problema, no
entanto, está no meio: é no ar que a informação se perde. É
entre a boca de quem fala e os ouvidos de quem ouve que talvez o que
não deveria ter sido dito é dito e alcança outros ouvidos que não
eram sua original destinação final.
Pois bem, absurdo,
indelicadeza ou gafe fato é que Madonna disse o que pensou, sem
perceber que de silencioso seu pensamento não teria nada, pois –
ops! - seu microfone estava ligado. Absurdo, indelicadeza ou gafe
talvez a liberdade esteja no fato de dizermos o que pensamos sem que
sequer pensemos no microfone. Hum, ou não. Começo a desconfiar que
a liberdade está no fato de não pensarmos tanto no que o outro
pensa ou deixa de pensar, na ausência ou na presença de um
microfone ligado. Será?