domingo, 7 de julho de 2013

"Pimentas"

     O prazer de terminar um livro me é comparável ao prazer de um beijo bem dado. É querer, ao mesmo tempo, duas coisas: que não acabe, que aquele minuto se prolongue indefinidamente pelo tempo; e que acabe porque melhor é o que vem depois. O beijo, amigo, é a véspera do orgasmo.
     E é assim que me sinto quando me aproximo da página final de um bom livro. Ao mesmo tempo que desejo que ele nunca acabe, desejo desesperadamente alcançar a última palavra para depois me perder em meio aos meus pensamentos e reflexões. Desejo fazer amor comigo e, enfim, gozar.
     Com o "Pimentas", do Rubem Alves, não foi diferente. Cheguei à última página com um misto de tristeza e euforia. A tristeza veio por conta do fim, por conta da indesejada despedida; a euforia porque minha alma inquieta, após ter sido fecundada por tantas ideias, gerou e pariu este texto.
     Rubem me ensinou e me inspirou bastante, ainda que nunca tivesse sonhado em fazê-lo. Por suas palavras, tive contato com Adélia Prado, Cecília Meireles, Bernardo Soares, Alberto Caeiro, Nietzche, Lobato e Fernando Pessoa...Que sensíveis essas pessoas! Que belas as suas percepções do mundo! Que "frasista" esse Fernando! 
    Aprendi que religião, poesia, parábola, Chopin e fogo são beleza; que literalidade e ciência são formas de ver a efemeridade do mundo; que beleza e efemeridade caminharão eternamente juntas. 
      Tomei a liberdade de lançar mão de duas frases citadas no "Pimentas" que se afinam com quem sou. 
      A primeira é de Alberto Caeiro e é resposta ao frequente questionamento de uma amiga querida que insiste em saber se estou "reeeealmente bem". Linda, encontrei a resposta poética para a sua pergunta! E, da próxima vez que perguntar, ela será mais ou menos assim: estou alegre e estou triste "mas minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma...".
       A segunda é resposta a outro frequente questionamento. Perguntam-me: "Você tem Facebook?". Digo: não tenho. Minha resposta vem seguida de um "sério!?" e eu digo "sim". E o surpreso "mas por quê???" do meu interlocutor é inevitável. A essa última indagação encontrei outra resposta poética, desta vez, transcrita nas palavras de Fernando Pessoa - o frasista: "Ah! A imensa felicidade de não precisar de estar alegre...". Para entender esse sentimento recomendo um outro texto meu.
          Alberto, Fernando, Rubem e tantos outros, obrigada. Muitas das perguntas que me fazem ainda continuarão sem respostas, mas essas? Essas não.